Micro-hídrica com turbina Pelton
Vamos analisar construção de uma micro-hídrica numa pequena ribeira de montanha (Serra de Montemuro). A queda é relativamente alta e os caudais reduzidos, o que
determina o uso de uma turbina de tipo Pelton.
Finalidade do aproveitamento
O micro-aproveitamento será o mais simples possível, concebido para trabalhar em regime de autoconsumo, com potência até 1.5 kW, em paralelo com rede pública.
Esta modalidade dispensa trâmites burocráticos complicados e demorados. A instalação não necessita de contador e energia injectada na rede não será remunerada.
Queda bruta
A queda bruta apurada é de 86.5 m.
Caudal
A estimativa das disponibilidades hídricas determina
seguintes valores:
Potencial hídrico
O potencial hídrico deste local, tendo em conta o caudal disponível 105 dias por ano (100 ltr/s), é cca 85 kW.
A micro-hídrica seria projectada para esta potência (dava uns 62 kW nos bornes do gerador) se a finalidade fosse venda exclusiva da energia à rede pública.
Potencial a aproveitar
Como necessitamos só 1.5 kW, o potencial disponível não será aproveitado.
Admitindo perdas de carga entre 5% a 10%, queda líquida irá rondar uns 80 m.
No cálculo podemos considerar estes valores:
- rendimento da microturbina Pelton - 81.5%
- acoplamento directo ao gerador, sem transmissão
- motor eléctrico assíncrono,
monofásico, de 1.5 kW como gerador, rendimento 70 %, velocidade nominal assíncrona 1390 rpm
Para termos nos bornes do gerador 1.5 kW, o caudal do projecto deve ser 3.3 ltr/s.
Este caudal está garantido 365 dias por ano, por isso a micro-hídrica irá trabalhar, em princípio, 8760 horas/ano e produzir 12 500 kWh (disponibilidade 95%).
Captação
A captação tipo Tirolês é das mais simples. Evita entrada de objectos indesejados no circuito hidráulico, incluindo areia. A construção é relativamente simples.
Uma estrutura para envolver no açude.
Conduta
Tendo em conta o caudal do projecto, tubo PEAD, PN 10, DN 63,
cumpre os requisitos necessários de uma conduta forçada. É barato e instalação é relativamente simples.
Queda líquida
Vamos admitir as perdas na captação na ordem de uns 30 cm, até entrada na conduta forçada.
A seguir calculamos a perda de carga para conduta forçada
. Valores aproximados podem ser consultados
aqui.
Um tubo PEAD de DN 63, PN 10 tem diâmetro interior de 53.6 mm. Comprimento é de 150 m.
A velocidade de água não deve passar 1.5 m/s. O cálculo de controlo confirma a velocidade de 1.462 m/s.
Perda de carga calculada na conduta forçada é de 5.19 m.
hlíq = hb - hcapt - hCF
(Queda líquida = Queda bruta - Perdas na captação - Perdas na conduta)
hlíq = 86.5 - 0.30 - 5.19 = 81.01 m
Potência no veio da turbina
Potência é calculada por equação seguinte:
Pturb = g x Q x hlíq x ηturb
(Potência no veio da turbina em kW = Constante de Gravitação x Caudal em m3/s x Queda líquida em metros x Rendimento da turbina)
Pturb = 9.81 x 0.0033 x 81.01 x 0.815 = 2.14 kW
(Nota: 1 m3/s = 1000 ltr/s; 3.3 ltr/s = 0.0033 m3/s)
Potência nos bornes do gerador
Potência é calculada por equação seguinte:
Pger = Pturb x ηger
(Potência nos bornes do gerador em kW = Potência no veio da turbina em kW x Rendimento do gerador)
Pger = 2.14 x 0.70 = 1.50 kW
Velocidade do gerador
Vamos usar o motor assíncrono como gerador. O motor escolhido tem velocidade nominal assíncrona de 1390 rpm.
Para trabalhar como gerador, a velocidade terá de passar para 1610 rpm.
Cálculo das dimensões principais da turbina
Turbina Pelton é relativamente simples, pode ser fabricada em qualquer serralharia que tenha equipamento básico como torno mecânico, fresa, etc.
Algumas dimensões e características da turbina, calculadas para o local em estudo:
h líq = 81,01 m
Q = 3,3 ltr/s
n.º de pás = 20
Ds = 224 mm
n = 1613 rpm
n embal. = 2903 rpm
P turb = 2139 W
Dd = 250 mm
d = 10,4 mm
D = 13 mm
b = 29 mm
l = 23 mm
(Nota: desenho-base de fabrico da turbina (incluindo dimensões e características completas), projectado e calculado para condições específicas,
poderá ser fornecidos, caso solicitado.)
Modo de funcionamento
O modo de funcionamento é também simples.
O motor assíncrono como gerador (tem de estar equipado com um condensador para compensar factor de potência),
a trabalhar em paralelo com a rede pública, não precisa de nenhuma regulação (velocidade, tensão, sincronização), nem excitação.
Sem estar ligado à rede pública, este tipo de gerador não produz electricidade.
Como fazer o arranque do grupo:
Com a turbina fechada, liga-se o gerador à electricidade (como motor eléctrico vulgar, a consumir energia eléctrica).
Quando atingir velocidade nominal (assíncrona, neste caso 1390 rpm),
inicia-se a abertura do jacto da turbina, o grupo turbina-gerador começa aumentar velocidade até atingir velocidade nominal de 1500 rpm
(neste ponto de equilíbrio não consome nem fornece energia à rede),
e a partir daí, a continuar aumentar velocidade, passa a trabalhar como gerador, aumentar a potência debitada à rede proporcionalmente com
aumento da velocidade. Quando atingir velocidade de 1610 rpm, estará a trabalhar à plena potência.
O grupo tem de estar equipado com um sistema que, em caso de falha da rede, acciona o deflector (para limitar velocidade de embalamento),
e desliga gerador da rede.
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